sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

A Chave d'Ouro

Era uma tarde de Outono
De um Novembro bem dourado
E eu carregava uma caixa
Que necessitava cuidado.

Uma caixa de madeira
De flores ornamentada
E envolta em veludo
Ia uma chave dourada.

Essa chave, que abria?
Mas que abria, pois, senão
Um pesado, ferrugento
E desditoso coração?

(Coração que abandonas
O teu gosto mais sagrado
Eu tentei deitar-te fora
Pois me eras muito pesado.

Estás em estado lastimoso!
Perdoa, coração, perdoa
Este ser inconformado
Que tantas vezes te magoa!)

Era uma tarde de Outono
Um anjo apareceu do nada
E tentou tirar-me à força
A minha chave dourada.

Quanta pena eu não senti
Desse anjo desgraçado
Pois seu pobre coração
Lhe havia sido tirado!

Num ápice de compaixão
Eu mesma lhe dei o meu
Levou-o, deu meia-volta
Nunca mais mo devolveu.

Durante dias e dias
Procurei viver a jeito
De procurar ocultar
O vazio do meu peito.

Na calçada de uma rua
Encontrei-o abandonado
O meu pobre coração
Tão desfeito e magoado!...

Estendi-lhe os meus braços
Com cuidado o agarrei
E com medo de o perder
Com mais força o abracei.

Antes de o tomar por meu
Peguei na chave dourada:
Quando abri o coração
Dentro não havia nada!

Coloquei-o no meu peito
Com a alma lacrimosa
Pois se lhe havia espetado
Os espinhos de uma rosa.

Mesmo tendo o coração
Meu peito ficou vazio
E num lance impulsivo
Atirei a chave ao rio.

(Era uma tarde de Outono
De um Novembro bem dourado
Que me deixou destroçado
Pois para meu desalento
Fiquei com o coração
Sem brilho e ferrugento.)

Permanece a chave d'ouro
No rio desde essa data
E nunca mais ninguém abriu
O meu coração de lata.

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