segunda-feira, 5 de março de 2018

Pórtico


Ali, onde a terra acaba e o céu começa
Onde o silêncio gris se anuncia, ali
Ali, onde cruzes de pedra chamam nuvens
Ali por baixo delas dorme o deus…

Tem as costas aladas pelos ventos
Crescentes pela luz da alvorada
E os pés sob o riacho se revolvem;

O olho do falcão repousa na cabeça
Adormecida; a mão direita
Ergue-se como pináculo nas colinas
Escrevendo novas ondas nas montanhas…

Ao longe os pinheiros vergam-se como ovelhas
À passagem do mestre que as domina;
Ali, nas planícies tão tamanhas
Ali suspenso por canções velhas, o deus
Repousa sob o véu da neblina…

Pelas manhãs brumosas teci espigas
Vagando nos cabelos de água doce
Sobre a pele vermelha as oliveiras
Enterram as raízes no sangue do deus…

Na terra abri covais e neles
Estendi-me sob o céu azul de estrelas
Contando com a luz de novas eras;

Ali, onde a terra vermelha se revela
Onde o saber antigo se desdobra, ali
Ali, por baixo das cruzes de pedra crescem vimes
E ali por entre os vimes espera o deus

Não crê que assim o creiam por seu modo
Não cuida que se vai em céus cuidando
O deus, que do rio lhe toma o nome
O deus por revelar que em versos rodo
Vence o silêncio gris e vai sonhando…

Pintámos sóis de prata, eu e o deus e neles
As terras por nascer se vão criando…

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