quinta-feira, 19 de janeiro de 2017

A Janela


Pelas noites de Verão
Quando assomo à janela
Não é mais do que intenção
De ver brilhar os olhos dela...

(Os seus olhos, duas estrelas
Que busco na escuridão
E que por interesse em vê-las
Firo o meu pobre coração.)





Quando a tarde é chuvosa
Ou é bela a manhã fria
Vejo-a andando vagarosa
Sem cuidar que eu a via.

Traz consigo no regaço
Sete rosas que colheu
Junto com meu coração
Que nunca me devolveu.

No fundo do meu castelo
Anda de um jeito que é seu
E procura-me p'ra me dar
O amor que prometeu.




Senhora dos meus sonhos
Que tal perfume emana
Eu sou rei, mas vos escolhi
Para minha soberana!

Nos seus cabelos cor de corvo
E sem temer tal abandono
Lhe coloco um diadema
E a sento no meu trono.

E ao acordar dentro de mim
Sabia tal não ser verdade
E na cabeça estando o sonho
No coração está a saudade...




Mas se a vida é linha frágil
Muito matam os ciúmes
E um anjo arrebatou-ma
Com uma espada de dois gumes.

Numa noite (sorte triste!)
Em vão esperei à janela
Passam horas, chega o dia
E nem houve sinal dela.

Fecho a porta, saio à rua
Pelos caminhos que passou,
Cada ponte, cada estrada,
Cada pedra que pisou.




Logo ouço um som funéreo
E sigo o órgão que tocava
E eis que encontro morta
Aquela dama que eu amava!

Se a sua pele branca
Era a seda de uma rosa
Hoje é a capa da Morte
Que a colheu, invejosa.

No cortejo à frente avança
Para a sua última morada
Um trono que julgo triste
Para a dama minha amada.

O coveiro solitário
O seu caixão negro encerra
E escondendo-o do Mundo
Cobre-o, fundo, com terra...

... Passam dias, passam anos
Que perdi minha adorada
Da alma resta a memória
Do corpo não resta nada.

Para mim não mais as noites
Têm estrelas para olhar
A minha estrela está no céu
E não a posso alcançar.

Hoje quando vejo um vulto
Estando à janela baça
Desolo-me ao descobrir
Que não é ela que passa.

Apesar do tempo feito 
De sua morte apercebida
O meu ser insatisfeito
Ainda hoje lhe dá vida´
Quando, triste, insinua
Ter visto o seu sorriso´
No fundo da minha rua
E a verdade dura e crua
Ainda faz meu coração
(Que não curou uma ferida)
Pelas noites de Verão
Quando assoma à janela
Ainda ter a ilusão
De ver brilhar os olhos dela...

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