terça-feira, 21 de fevereiro de 2017

Delphos

Vi-te na estrada para Delphos
Com a ânfora segura à cabeça
Escorre água do barro desgastado
Percorre os dedos compridos e finos
E desce por um rosto direito e delgado
Ramos de uma árvore
Prendem-te os cabelos escuros...

Vi-te na estrada para Delphos
A estrada estreita e infindável
Ao longe as colunas esguem-se no céu
Voluptas jónicas enrolam o nevoeiro
O altar de onde desceste
Parece mais vazio sem ti
Com uma lira partida Orpheu encanta as nuvens...





Vi-te na estrada para Delphos
E foi essa estrada que me levou a ti
Saíste do frontão de pedra triangular
Mas o que fizeste!
Agora até o mármore do templo
Suspira a tua ausência!...

De melhor maneira que o próprio Orpheu
Minha lira encantada chorou, gemeu
E a tua ânfora estala; a água verte...

Vi-te em Delphos, pelo raiar do dia
E lá te deixei, estática e fria,
Eurydice em pedra, sem ânfora,
                                                   - inerte.

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