sexta-feira, 17 de fevereiro de 2017

Thalatta

Lá, onde a morna brisa aquece
A minha terra, à beira-mar
Alheado e sem pensar
Vejo o Sol que adormece...
Lá, onde a brisa aquece
Barcos vejo a navegar...

Ondulando as ondas de ontem
No amanhã que virá
Sonha hoje (quem saberá?)
Pelas amarras que se soltem
Ondeando as ondas de ontem
(Há quanto tempo estará?)...

Vejo dormir os veleiros
Lentos, pondo-se a sonhar
Por quem os vá navegar,
Do seu sono prisioneiros;
Vejo dormir os veleiros
Na minha terra, à beira-mar...



E uma onda vai, uma onda vem
Vai o pensar, vem a lembrança
Vai a saudade, vem a esperança
Vão os meus olhos por ninguém
E uma onda vai, uma onda vem
E a longa praia não descansa...

(Na proa do meu navio
Usando o mar como estrada
E levando em riste a espada
Olho o areal vazio
Na proa do meu navio
Ao raiar a madrugada...

Com um rápido movimento
De minha espada, arma mortal,
Espero o dar do sinal
E com a força do vento
Com um rápido movimento
Parto a barreira de cristal...

Mas o céu esmoreceu
Com o feito que eu fiz.
E, não podendo de feliz,
Canto para o areal que é meu
Mas o céu esmoreceu
E o vento ouve e nada diz:

"Abram portas, sou chegado!
Abri-vos de par em par!
Depois de muito lutar
O cristal está quebrado!
Abram portas, sou chegado!
Cheguei e venci o Mar!"

As portas fecham; foi em vão
Não me querem receber
Vejo o Sol se esconder:
Deixam-me na solidão
As portas fecham; foi em vão
O que eu estive a combater.)

Estas e outras coisas sonho
Vendo o que o mar revela
Sonho a minha caravela
Navegante me suponho
Estas e outras coisas sonho
Quando estou à janela...

São minhas as ondas que teço
No meu reino de fim do mundo
Quando eu, por um segundo
Outra vida não conheço
São minhas as ondas que teço
E é minh'alma um mar profundo...

(Sei que algures, na alvorada
Está a rainha saudosa
Está Anfitrite, portentosa,
Nas suas ondas deitada
Sei que algures na alvorada
Está terra mais formosa;

Sei que já fui rei um dia!
Sei que já dancei com fadas
Tive tristezas fadadas
Que por algo eu morria
Sei que já fui rei um dia
Numas terras encantadas...)

... Lá, onde a morna brisa aquece...
... Ondulando as ondas de ontem...
... Vejo dormir os veleiros...
... E uma onda vai, uma onda vem...
... Mas o céu esmoreceu...
... As portas fecham; foi em vão...
... Vejo o Sol se esconder...
... Estas e outras coisas sonho...
... São minhas as ondas que teço...
... Sei que já fui rei um dia!...







Lá, onde a morna brisa aquece
Em meu país sossegado
O Sol se encontra deitado
Quando, no fim, anoitece
Lá, onde a morna brisa aquece
E, ouvindo o vento cantar,
Abrem-se portas de par em par
A minh'alma adormece
É um veleiro a navegar
Num mundo que desconhece
A própria terra se esquece
E nada existe...
                                   - só o Mar...


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