terça-feira, 1 de novembro de 2016

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a tarde passava silenciosa, cinzenta

ainda eu nem nome teria
e mesmo sem experiência de vida
fui eu que te baptizei
e dei-te um nome: 'vó

sim, 'vó e não avó
porque o número de letras não importa
e era de maior jeito um nome mais curto
visto que o chamava muitas vezes

guardo comigo na memória
as histórias que sempre pedia
mas porquê, 'vó, explica-me
por que eram sempre tão tristes?

a tarde passava silenciosa, cinzenta
e caminhando triste no jardim da minha vida
entristeço-me

mas o tempo não pára
árvores já ganharam e perderam folhas
rios já encheram e já vazaram
flores já nasceram e já murcharam

as estações sucedem-se
e, tal como já fui pequena um dia
agora estou grande, cresci
e se visses como estou enorme

tal como o número de letras
também o tamanho não importa
porque ainda continuo a ser
a menina das trancinhas e dos folhos
que fielmente todas as noites
quando o sono custa a chegar
ainda pede como quem pede o mundo
(o meu)
"avó, conta-me uma história"

a tarde passava silenciosa, cinzenta
e caminhando triste no jardim da minha vida
entristeço-me
quando vejo que hoje um banco está vazio

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