sábado, 7 de outubro de 2017

A Estátua



Foi ontem que a vi da janela
Só, no meio do jardim
Rodeada p’lo belo jasmim
E ornada p’la rosa bela
Mas qual uma triste ilusão
De rocha cinzenta era ela
Com flores de pedra na mão
            - Tu não.






No meio do jardim florido
Olho-lhe a fronte parada
E penso-lhe a fortuna errada
De ver tal encanto perdido
Em dama de pedra tornada;
E tem olhos fixos em vão
No céu do qual não verá nada
            - Tu não.




Nem um sorriso me devolve
Quando eu a olho de frente
A falta de alma permanente
No seu olhar duro se envolve
Tem semblante descontente
Não conhece dor e emoção
E a pele cinza nada sente
            - Tu não.





Aceno-lhe e rio, mas nada
Ao menos a ti posso rir:
Podes devolver um sorrir
Entre a tua boca rosada
E se tem boca é em vão
Pois tem-na p’ra sempre fechada
P’ra que é mulher, pois então?
            - Tu não.



Ai, pobre estátua cinzenta
Não se sabe pedra ou mulher
E tu, carne e osso, é mister
Que sejas quem amor ostenta
Mas eis-me aqui sempre em tormenta
Sem que tu me olhes sequer
P’lo que, ouve, aprende a lição
Que a mulher de pedra apresenta:
Apesar de pedra cinzenta
No peito tem um coração

            - Tu não.

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