terça-feira, 14 de novembro de 2017

Flor de Sal

Na trova nos céus velada
Em ondas que a voz enlaça
Vi minha pátria ancorada
Nas calhas da noite que passa.

Vi minha pátria perdida
Nas brumas da manhã fria
Erguendo na sombra aguerrida
Os mastros da nau que se abria.

Numa tarde em voz dourada
A rebate em tristes floras
Vi minha pátria finada
No tardo sino das horas.

Vi minha pátria florir
Nas mãos da Rainha Santa
Tendo por seu o porvir
Cego que o mastro alevanta.

Minha pátria, a que aventuro
Tristes trovas que lhe dou
Chora, por um velo escuro,
O olho que o mar lhe levou.

Levou por o ter chorado
Na canção ao desatino.
Vi meu país afogado.
Pelo troco de ouro fino.

Mais eu vi no veio claro
D’água sua que bebeu
Duas ‘spadas sem amparo
Junto ao braço que as perdeu.

E mais vira se não fora
(Escudo meu que não terei!)
A armadura sonhadora
Em que meus olhos fechei.

Na trova no céu velada
Ondas que já não se enlaça
A minha pátria ancorada
Já não parte, já não passa.
Já não ‘screve em versos seus
As sereias na água escassa
Nem as vozes que em adeus
Bem contra preceitos seus
Viram partir em desgraça.
Mas dos vales vis e fundos
Que, nas trevas, a compasso,
Luzem no oceano baço
Velhas eras, novos mundos,
Surge a flor plantada à proa
Daqueles que ainda a esperam…
E nas sombras que revelam
A alta voz que doce ecoa
Em que o sonho sobrevoa
O mar na palma da mão
Vai vagando em si cativa
Relembrando em voz missiva
Aos que esperam sem razão:
Não se perderá quem viva
Com o sal no coração!...


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