terça-feira, 16 de maio de 2017

Era uma Tarde


Era uma tarde de Outono quando te encontrei perdida
Era uma tarde de Outono quando te vi junto à fonte
E, suplicante, a voz esbatendo-se com o ar que faltava
Murmurei:
- Tenho sede...

Era uma tarde de Outono quando te encontrei, esbatida
Nos tons rosáceos e rubros do horizonte
E, humilde, estendi-te as mãos, eu suplicava
Murmurando:
- Tenho sede...

Os teus olhos verdes
Os teus líquidos olhos verdes que enfeitavam o teu rosto
Duas gotas de chuva para a minha boca sequiosa
Eram dois sóis que penetravam a minha alma
Verde, verde
Que te murmurava incessante:
- Tenho sede...

O vento passava como o tempo que passa
As folhas caíam como o amor que cai
Espelho de tempos já passados,
Sonhados pelas almas sequiosas
Que os viveram no coração...
As tuas mãos são o bálsamo para o meu rosto cansado
Quando afastas dele a poeira dos caminhos
Porque peregrinei até à tua frente para te dizer que tenho sede,,,

Com as tuas mãos fazes uma concha; mergulha-las na água da fonte
E ergues as tuas mãos à minha boca seca como um cálice
A minha fronte inclina-se no espelho de água que me deste
E, percebendo, afastei as tuas mãos
E olhei-te os olhos dizendo:
- Aqui o que vês sou mais do que eu
Que não quer mais que o amor que é teu
E se, por instantes, vossa mão tocasse
Naquilo que é mais que um corpo que vejo
Sem que minha alma da sede acalmasse
Veríeis vós; não é água que eu desejo
E neste andarilho sem terra, vede
Que só poderei matar minha sede
No cálice húmido e terno de um beijo...


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