domingo, 19 de março de 2017

Creta


Lá em Creta, onde eu fui aportar
Num tempo que passou que já não sei
Quando mais não posso recordar
Passo os dias pensando que sonhei
Aquele dia no qual, enquanto Rei,
Tive a ideia vã de a coroar...

Lá em Creta, quando Heraklion adormece
Penso que talvez deva voltar
(Como se Fortuna tal quisesse!)
A fazer a sua ânfora estalar
E arrisco por momentos imaginar
Pelo que seria agora se o fizesse...

Lá em Creta eu não me sinto, em verdade,
Lá em Creta, minha terra prometida
(Heraklion tem a minha lealdade)
E cantando com a alma adormecida
'Inda é Delphos que minha lira partida
Recorda hoje em sonhos com saudade...

(Passam tempos, passam anos
Desde que eu fui aportar
Lá em Creta, a maior ilha, à beira-mar
Desfeito por meus enganos.
O meu barco não tornou a navegar
No entanto, perdi o meu coração
Quando te vi na estrada para Delphos
Com a ânfora segura à cabeça
E todas as noites, quando Heraklion adormece
Largo o meu ceptro e saio do meu trono
Para assomar à varanda
E canto canções até de manhã
E, porque a fraqueza é condição humana
- fios que tece em vida Ariadne!... -
Co'a minha velha lira em meus braços
E olhando o mesmo céu com olhos baços
Canto ainda os belos olhos de Eliane...)

... Lá em Creta, onde eu fui aportar...
... Lá em Creta, quando Heraklion adormece...
... Lá em Creta, onde eu não me sinto em Creta...
... Lá em Creta, em meu reino à beira-mar...




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