quarta-feira, 28 de dezembro de 2016


VII

Verdes campos, longos rios, prados floridos
Que em uma tarde amena o Sol dourou
Bem como as lembranças que o longo rio levou
Mais os sonhos que reguei em tempos idos...

Por entre cantares, pássaros adormecidos
O luzir do Sol meu coração curou
Da ausência e da saudade por quem chorou
Em dias remotos, em lugares perdidos...

E, apesar de luzir no céu o Sol brilhante
Sinto assomar em mim a cada instante
Um coração ferido e sempre triste!...

Tivesse eu podido travar tal tormento!
Que o mesmo Sol me tivesse dado alento
No dia em que de meus olhos te partiste!...

sábado, 24 de dezembro de 2016


VI

No meio da noite triste e escura
Com o disco lunar redondo, brilhante,
Esperançoso, quão dúbio amante,
O terno pássaro, em vão, procura...

As horas passam, a noite continua
Perdem-se as penas, os olhos, a vida
E a ave jazeu, morta, perdida,
No meio da noite triste e escura...

De cálidas mãos para vil criatura
De urtigas feita, que fere e tortura
De lágrimas claras forma mil defeitos:

Eis o rosto daquela que augura
Que em pobres rimas mata, enclausura
Meus versos perdidos e sonhos desfeitos.

terça-feira, 20 de dezembro de 2016


V

Prostrado em largas horas descontente
Em tempos, contratempos e outros tais
Mantive-me fiel àquela gente
Que se sabe feita de areias e metais...

Naquela de que existe certamente
(Incessante na busca de sinais
E 'sperando-os em vão ardentemente)
Uma vida de flores e de corais

Mantive-me iludido; pensei ser certo
Firo-me de morte, então liberto
O meu pesado e frio coração!

Olho langue o céu, é tudo incerto
Jorra o sangue negro do peito aberto
O resto é discórdia... e solidão...

sexta-feira, 16 de dezembro de 2016


IV

No meio do plaino abandonado
Em urros deitei contas à vida
Às tantas chorei, já tinha dorida
A voz, rouca de tanto ter gritado.

Nisto encoberta, clara e difusa
Ouço uma voz do céu que se abria
E vi uma imagem que então descia
E que em altos berros me grita e acusa:

"Desgraçado poeta, por que choras?
Mas não entendes que é esse viver
Que te atraiçoa e te faz sofrer?

Acorda, poeta, por que te demoras?
Muda então, tenta perceber;
Podes ser feliz, é só querer."

segunda-feira, 12 de dezembro de 2016


III

Sinto saudades de vosso sorriso
Mas sei que um dia, senhora, em tarde amena
Vos encontrarei calma, doce, serena,
Abrindo-me as portas do Paraíso..

Mas p'ra meu mal vos haveis apartado
Perdestes do rosto os lábios rosados
Vossos lindos olhos agora fechados
Cabelos sem cor, coração parado.

Não quero a Vida, escolho a Morte!
Não quero ter que viver esta sorte
De ter que aguentar algo tão atroz!

Quero morrer já, ver vosso olhar terno
Serei punido, mas creio o Inferno
Menos doloroso que uma vida sem vós...

quinta-feira, 8 de dezembro de 2016


II

"As Alcióneas aves tristes canto"
Assim cantou o Poeta um dia
E eu cuidei que era fantesia
Quando o mesmo sofria entretanto...

Meu coração pena tanto, tanto!...
Cada vez mais perco minha alegria!...
Ignorantemente eu não entendia
O motivo que levava a tal pranto...

Levantam-se os templos da grega Corinto
Acorda em Pompeia um vulcão extinto
Mas meu coração, de arder, já sofria...

Ah, quem dera não sentir o que sinto!
Ter o meu espírito desfeito, faminto,
P'la liberdade que perdi um dia!...

domingo, 4 de dezembro de 2016




I

Bela Anfitrite, nobre soberana
Senhora suprema do exército de Proteu;
Tu, que tomas o vasto Oceano como teu
O fresco das águas e a salitre que emana,

Só a ti o quente Austro obedece
Só para ti as doces gaivotas cantam
Só contigo as estrelas se espantam
E deste-te à terra que te não merece.

E se eu, que de mortal tenho minha condição
Não vos pude nunca chegar ao coração
Ó, dina Anfitrite, senhora minha,

Posso, no entanto, ter este proveito
e vos professar todo o meu respeito
Com que vos saúdo, minha Rainha!

terça-feira, 29 de novembro de 2016

O Tocador de Guitarra

Lá, num beco de Alfama
Lá, onde o fado se amarra
Lá, está a música-chama
Do tocador de guitarra.

É de madeira o seu banco
Onde se senta e descansa
E canta com olhar franco
O que o fado traz de herança.

São seus os versos que dita
É sua a música que canta
É minha aquela hora bendita
É minha a alma que encanta.

Sentado o vejo sozinho
Todo o dia canta o fado;
Um velho copo de vinho
Meio cheio jaz ao lado.

Nisto então, no final,
Com um pano na algibeira
De socas e avental
Chega a sua cantadeira.

Canta-se agora o fado
Pelas ruas de Lisboa
E o tocador, sentado,
Dá-me a dor que o magoa.

A criança portou-se mal,
Cala-se p'lo pai que a manda;
Uma senhora, c'o estendal,
'Stende a roupa na varanda,

Lisboa, que o Sol espanta,
Cidade velha, sem idade
Seu rio é o fado que canta
Suas janelas são saudade.

Passam horas, é dia findo
A cidade já descansa
O Sol forte já amansa
A noite já vai caindo
E o tocador sentado
No seu banco de madeira
Despede a cantadeira
Cessa de tocar o fado

E, lá num beco de Alfama
O tocador de guitarra
Apaga o seu olhar franco
E, sentado no seu banco,
Quando o dia se esvanece
Cessando o fado que amarra
O tocador pousa a guitarra
E, com Lisboa, adormece....


sexta-feira, 25 de novembro de 2016

Quadras ao Gosto Popular

Sonhos com a minha aldeia
Oh, que me deixais assim,
Quanto mais me vem à ideia
Mais me afasto de mim...!

Mais que ter um bom amante
É melhor um bom amigo;
Estas e outras coisas penso
Quando me sento só comigo.

Aquela estátua é perfeita
Só não tem um coração;
- Ó senhores, dai-lhe o meu,
Que é de pedra a Solidão...


Melhor a vida de uma árvore
Que a minha como eu sou:
Estas coisas sei-as eu
E ninguém mas ensinou.

Despedes-te de mim à porta
Com toda a graça que é tua
E entrando o corpo em casa
Deixei minh'alma na rua.

Oh, que moçã tão bonita!
Oh, que olhos de luar!
Oh, que moça tão bonita
Para comigo casar!

Doba, doba, dobadoira
Doba raios de luar
Doba, doba, dobadoira
E minha mãe a chorar!


Chora, chora a minha mãe
E passa a noite a dobar
Por meu pai que já partiu
Que 'inda está em alto mar.

Fui com minha prima à eira
Procurar o milho-rei
Encontrou-o, é Rainha
E eu não me conformei.

Dou-te tudo o que eu sou
Mas não me leves a mal:
O coração não to dou
Que esse é de Portugal!

domingo, 20 de novembro de 2016

O Fadista

Viveu em Lisboa um dia
(Amigo valente da farra)
Certo fadista altaneiro
Com a sua guitarra.

De cabelo solto ao vento
Passeia altivo na rua
E com passo decidido
Pensa que a cidade é sua.

Um pouco por toda a cidade
Que o largo Tejo abençoa
O fadista e a guitarra
Cantam as ruas de Lisboa.

Mas uma manhã de Maio
Quando à janela cantava
Viu uma dama singela
Que à sua porta passava.

Ai, que boca tão vermelha
Ai, os cabelos que tem
Mais seus olhos cor do mar
Que não olham para ninguém!

O xaile que leva aos ombros
Recorda a vida que viveu;
A canastra vai vazia
Hoje nada o mar lhe deu.

Pela noite ou pelo dia
À sua porta passava
E o fadista enamorado
Com a guitarra, cantava.


Mas eis que certo dia
Pela porta não passou
Disse-lhe a maresia:
"Foi o Tejo que a levou".

O fadista, amarga sorte,
Pronto foi a enterrar
E deu lugar ao silêncio
Quando morreu a cantar.

Na varanda do seu quarto
Ficou só, ao abandono,
A sua velha guitarra
Partida, sem cordas, sem dono.

Mas se o corpo é efémero
No fim fica o sentimento
E o fadista morreu
                                                                                    Em profundo desalento.

E ainda hoje o povo conta
(Mas baixinho, de soslaio)
Que pelas manhãs de Maio
À hora que o Sol desponta
O fadista, em lealdade
E não livre da amargura
Já no pó da sepultura
Chora canções de Saudade...


quinta-feira, 17 de novembro de 2016

Trezentos e Quarenta e Três Mil Seiscentos e Vinte e Um


Trezentos e quarenta e três mil
Seiscentos e vinte e um
São os dias de vida da flor cor-de-rosa.

Trezentos e quarenta e três mil
Seiscentos e vinte e um
Tiraram-se uns três mil:
Trezentos e quarenta mil
Seiscentos e vinte e um
E não deixa de ser tempo a mais
Para uma flor cor-de-rosa.

Trezentos e quarenta mil
Seiscentos e vinte e um
Tiraram-se uns seiscentos:
Trezentos e quarenta mil
E vinte e um
E um número deu a mão à vogal.

Sim, "um" número
Porque além de numeral cardinal
Também tem função linguística
(Mas quanto será mesmo um?)

Trezentos e quarenta mil
E vinte e um
Tiraram-se uns quarenta mil:
Trezentos mil
E vinte e um
Sóis viu nascer a flor cor-de-rosa
Quando se abria, irradiava a Lua
Quando fechava, o Sol voltava para a ver...

Trezentos mil
E vinte e um
Tiraram-se uns vinte e um:
Trezentas mil vezes
O colíbri namorou a flor cor-de-rosa
Sem que esta se dignasse a voltar-lhe a corola.
Mas porquê o ar gélido
De uma flor que era o Sol?

Trezentos mil...
Se os tirarmos...
O que fica...?

Trezentos e quarenta e três mil
Seiscentos e vinte e um
São os dias de vida da flor cor-de-rosa
Sem que esta merecesse tempo algum.
Devagar ou depressa
A vida acontece.

Trezentos e quarenta e três mil
Seiscentos e vinte e um
Tiraram-se todos num repente
E porque a vida o consente
O resultado é: nenhum.


domingo, 13 de novembro de 2016

O Gato

Passei o dia e a noite
A correr atrás do gato
Nunca mais o encontrei
Escondeu-se no sapato.

Passeava no pomar
Quando uma maçã caiu:
A culpa é daquele gato
Que lá uma vez subiu.

Surpreendeu-se o gato,
Deu um salto e fugiu:
Toda a noite o procuraram
Nunca mais ninguém o viu.

Fico triste pelo gato
Quando acaba de comer:
Estica as patas, sai p'rá rua
E nem de mim quer saber.

Quando o frio lá fora corta
E está acesa a lareira
O gato estica e adormece
No soalho de madeira.

Estou danada com o gato
Procuro-o p'ra lhe bater:
De tarde partiu a jarra
E fugiu logo a correr.

Gato é Hermes alado
Sempre que lhe apetece:
Nunca dia nunca me larga
Noutro nunca me aparece!

Guardei o vestido novo
Que comprei além na feira:
Este não mo rasga o gato
Nem que esse danado queira!

No sofá fazia malha
Quando me cai um novelo
O gato brincou com ele:
O gosto que me deu vê-lo!

Gato pequeno que brincas
Sozinho co'as pedras da rua
Trata de me deixar passar
Que ela não é toda tua!


quarta-feira, 9 de novembro de 2016

Quem sou eu?


Passeava eu no areal
E o mar perguntou:
- Quem és?

És ser em movimento
Com o movimento dos tempos
Entre tempos que se repetem
Sem deixar de ser diferentes.
És igual a tantos, és diferente de outros
És criação, és criador
És animal em mutação.
És alegria, és tristeza
És ilha, és continente
És mudança permanente
Num mundo que se mantém.
És só tu e és alguém.

És tudo, és nada
Personagem inventada
Para a história da Vida
Não entendo,
Não compreendo,
Com tantas coisas sendo
Ainda não entendi quem és...

Passeava eu no areal
E o mar perguntou:
- Quem és?

- Eu sou.

sábado, 5 de novembro de 2016

Gaivota

Esta noite eu voei...
Não me perguntem como...

Esta noite eu voei...
Voei como voa uma gaivota
No cais, à beira-mar...
Pelo começo da aurora,
Vindos do mar que ignora,
Vê os barcos a chegar...

Esta noite eu voei
Como voa uma gaivota
No cais, à beira-mar...

Num barco eu naveguei:
Não sabendo onde estava
Tomei rota contrária
Ao que a corrente dava...

Esta noite eu voei...
Como voa uma gaivota...
No cais, à beira-mar...

Tenho saudades do tempo
Em que voei nos teus olhos
Como voa uma gaivota
No cais, à beira-mar,
Pelo começar da aurora
Vendo, no mar que ignora,
Meu barquinho a navegar...

terça-feira, 1 de novembro de 2016

...


a tarde passava silenciosa, cinzenta

ainda eu nem nome teria
e mesmo sem experiência de vida
fui eu que te baptizei
e dei-te um nome: 'vó

sim, 'vó e não avó
porque o número de letras não importa
e era de maior jeito um nome mais curto
visto que o chamava muitas vezes

guardo comigo na memória
as histórias que sempre pedia
mas porquê, 'vó, explica-me
por que eram sempre tão tristes?

a tarde passava silenciosa, cinzenta
e caminhando triste no jardim da minha vida
entristeço-me

mas o tempo não pára
árvores já ganharam e perderam folhas
rios já encheram e já vazaram
flores já nasceram e já murcharam

as estações sucedem-se
e, tal como já fui pequena um dia
agora estou grande, cresci
e se visses como estou enorme

tal como o número de letras
também o tamanho não importa
porque ainda continuo a ser
a menina das trancinhas e dos folhos
que fielmente todas as noites
quando o sono custa a chegar
ainda pede como quem pede o mundo
(o meu)
"avó, conta-me uma história"

a tarde passava silenciosa, cinzenta
e caminhando triste no jardim da minha vida
entristeço-me
quando vejo que hoje um banco está vazio

quarta-feira, 19 de outubro de 2016

A Boneca

Dois tiros...

A cidade está calma, silenciosa;
No ar, o silêncio mata
E por entre ares tóxicos e venenos
Soa a sinfonia de dois tiros...

Um pássaro morto jaz no chão
Jaz sem asas e sem bico:
Levaram-no os insectos
Que sobrevivem na terra estéril de cinza...

Recordações, tantas vidas, tantos sonhos!
Agora os incêndios iluminam a cidade
Partes de corpos (do que parece) enfeitam as janelas
O rio que corre na rua é vermelho...

Dois tiros...
Uma criança...

A criança olha, em pé, consigo a boneca
E o seu coração está vazio, ferido
E o chão queimado é humedecido
Por inocência vermelha que, com Sol, não seca...

Menina, criança, não chores!
A boneca, rota, deu-lha sua mãe
Mas a mãe já não está, não lhe pega ao colo
Qual deles, qual dos vultos no chão seria a sua mãe?

És um cadáver, cidade, estás morta
E contigo morrem os sonhos, esperanças;
Queimem-se os vossos telhados de dor e angústia
Derrubem-se as paredes sádicas e hipócritas!

Dois tiros...
Uma criança...

Cai a boneca...

domingo, 16 de outubro de 2016

És




És uma uma névoa de cinza que
Em cada vez se aproximando
Mais me mata e sufoca
Sem que no entanto eu creia
Essa morte penosa...

quinta-feira, 13 de outubro de 2016

O Pássaro Morto

O pássaro está morto
E, como ele, também eu morro aos poucos
Cada vez que recordo,
Com saudade,
A canção do pássaro morto.

O pássaro está morto
E fui eu que o segurei morto.
Não pode voar para o céu.
É escura, triste e fria
A lápide do pássaro morto.

O pássaro está morto e eu adormeço.
Deito-me debaixo da árvore onde cantou-
As folhas caem da árvore sobre mim
E eu fecho os olhos,
Começo a sonhar---

Enquanto eu durmo eu tenho um sonho:
Nele, as flores têm mais cor
A árvore cobre-se de folhas novas
E, inquieto e feliz na janela,
Ouço cantar o pássaro morto...

segunda-feira, 10 de outubro de 2016

Hoje



Hoje chove.
Mas talvez não seja apenas a chuva.

Talvez seja o meu coração
Que tomou o tamanho do Universo
E chora
Cada vez que bate.

sexta-feira, 7 de outubro de 2016

História Trágico-Marítima

O naufrágio que faltava narrar

Outrora naveguei no alto mar
E, em vão, busquei um paraíso.
Mas nunca liguei ao sábio aviso
Que é perigoso teu mar cruzar.

Naufragou minha linda caravela
E me perdi no mar que é teu;
Morreu, também, o sonho meu
De encontrar terra tão bela...

Pouco perco, que esse mal
Não é na certa igual
Ao nunca ter navegado;

Pois mais perdi eu então
Ao ter deixado o coração
Nesse teu mar naufragado...

terça-feira, 4 de outubro de 2016

Mar


Mar calmo, mar sereno
Como meu lenço de vinho branco
Onde verto minhas lágrimas de tristeza e pranto;
Um dia que, rápido, é instante.
A luz que me aquece reflecte, fulgurante,
A lentidão dos meus passos face à tempestade que se avizinha.

Mar de tristeza, mar de agonia, mar de saudade
Que, em ventos, se torna tortura minha;
Ao longe a terra, mar de tempestade,
Tornada horizonte que de belo nada tinha.

Sob o céu trémulo de vento e que em luz a sustinha,
Movida de alegria e suspensa de tristeza
Pela luz da Lua que em silêncio escuta
Comovidamente por tamanha afoiteza
Avança a gaivota, decidida e arguta
Árias cantando e continuando a viagem
Voa alto e alto é o seu cântico
Na certeza de no mar ter a passagem
E cruzar as frígidas águas do Atlântico.

Como um gemido o mar se altera
Ao dar conta do profundo engano
Da avezinha que nunca soubera
Vir a morrer no imenso Oceano.

Oh, quanto desgosto, quanta tristeza,
Quanta pena pelos céu demonstrada
Quando a gaivota, pelo vento enfraquecida,
Viu no Atlântico a sua última morada!...

Cansada e sem vento que a levante
A gaivota cai com um suspiro
E mergulha nas águas do Oceano
Entregando a vida ao negro Atlante.

Mantém-se calado e suspenso no céu
Que, naquela noite, velou com agonia constante
O motivo de viagem tão esgotante.
Mantém-se calado e assim permanece
Sob as águas frígidas do Atlântico,
Entoado pela gaivota em seu doce cântico
Que conta em certezas para quem não esquece:
"O coração tem razões que a própria razão desconhece..."


sábado, 1 de outubro de 2016

Sem Título II

Jaz o coração no meio da noite escura
Em sete lanças ficou trespassado
Só, triste, mergulhado em saudade
Uma dúvida imersa de amargura:
Saber se é sonho ou realidade...

quinta-feira, 29 de setembro de 2016

Sem Título I

Foi um sonho que eu tive...

Encontrava-me num grande jardim
De flores colorido
E onde sonho ou fantasia
Nunca fizeram tanto sentido..

Foi num rodopiar de borboletas
Esvoaçantes
Pelo céu, na imensidão,
Que vi, embalado pela canção
Dos pássaros cantantes,
Das águas do regato,
Um rosto...

Seus olhos eram o orvalho
Pendente nas folhas da trepadeira
Que ostenta a minha janela...

Tal com como passou a tarde
Também chegou a noite...
E, de manhã, eu entendi...

Aquilo não fora um sonho
E aquele rosto, meu amor, era o teu,
Guardado num jardim florido
Dentro do meu coração...

terça-feira, 27 de setembro de 2016

O Coração


Esta noite eu chorei
Por pouco os olhos não chorava
Pelas penas que passei
Sem ver que solo pisava.

Esta noite chorei lagos,
Logo chuva passageira
Pelas penas que passei
Mediante vida inteira.

Esta noite chorei rio
Que correm para o mar;
Levam-me num barco verde
Com trovões a velejar.

Chorei lagos, chorei rios,
Só não chorei o coração,
Atirado a sete léguas
Nas teias da Solidão.

Estivera eu em terra
Ó, que vida desgraçada!
Fiquei no meio do mar
Sem olhos, barco... sem nada...

Ficou só o coração
Pela maré sem destino
Colhido por fadas boas,
Transformado em oiro fino.

Ficou só o coração
Pela maré a boiar.
É um veleiro sem rumo:
Quem sabe onde irá parar?

Vera cruz não é morrer
Nem viver vida de louco
Mas sua terra esquecer
E no mar perder-se um pouco.

Foi a Lua sua guia
E o Mar foi sua estrada
Ascendeu ao firmamento:
É o Sol da madrugada...


domingo, 25 de setembro de 2016

Flor Solitária


Há vida nos meus sonhos
Que os olhos não podem ver...

Houve outrora uma floresta
Que só eu vi em sonhos
Mas que os meus olhos não viram...

Lá havia a Poesia!
Lá voavam os pássaros
E cantavam com o riacho 
Em eterna sinfonia.
Lá o Sol luzia!...
Reinava a Alegria!...

Há poesia nas coisas
Como sendo numa flor
Só, numa floresta cerrada
Aos meus olhos
Mas aberta
Aos meus sonhos...

Há poesia nas coisas
Como sendo numa flor...
Mas o Sol já se pôs,
Os pássaros já não voam,
O riacho já não canta
E eu já não vejo...

Ficou algures a flor
Perdida pelos meus sonhos
No meio da floresta...

E eu, que não vejo nada
Penso, embora abalada
Qual a cor do Amor...

A flor já murchou,
A noite já caiu,
Os pássaros morreram
E o riacho secou...

Ficou apenas a Música
A ilustrar o que, em tempos,
Os meus sonhos viram
Para o tornar memória;

Outrora os pássaros voavam,
Cantavam com o riacho
Em eterna sinfonia.
Outrora o Sol luzia
E conto, com saudade,
Que outrora houve uma flor,
Nas florestas solitária,
Perdida pelos meus sonhos...

Esta noite eu sonhei:
Não havia floresta, não havia nada,
Antes a calmaria anunciada
Da noite que chegava...
Eu tocava para a flor
E a flor dançava, dançava...
Dançava sem parar
E, ao chegar a madrugada,
Ambos voámos em direcção ao céu
Resplandecente
Que, à luz do Sol, luminescente
Nos embalava, suave e calmamente, 
Na certeza de alcançar o Infinito
De uma cor branca, cor de marfim,
E onde viveríamos os dois
Eu e a flor
Ontem
Hoje 
Amanhã
Até ao fim dos tempos...

Era um sonho como era um sonho.
Se este sonho fosse verdadeiro
Mas que feliz eu seria!...

Ai eterna saudade
Daquela flor que, em tempos,
Foi a minha alegria!...


sexta-feira, 23 de setembro de 2016

Folha


Uma folha de Outono

C
a
i

Rodopia no ar

E p
       o
           u
               s
                   a nas calmas águas do lago

Cuja luz reflecte
A porta larga dos meus Sonhos...


quarta-feira, 21 de setembro de 2016

Neve

A neve caía
Branca e sem mácula
Como uma rosa
Que se desfolhava


ta
la

a


ta
la

No cascalho do caminho...

segunda-feira, 19 de setembro de 2016

Cançoneta


A estrelinha pequenina
Que eu vejo da janela
Não a posso alcançar
E não deito mão a ela.

Mas isto tem solução:
Vou pegar na escadinha
Que está na arrecadação
Bela estrela, agora és minha!

De alegria tenho tudo
De tristeza tenho nada
Ao ouvir o canto mudo
Da estrela minha amada.