Em ondas que a voz enlaça
Vi minha pátria ancorada
Nas calhas da noite que
passa.
Vi minha pátria perdida
Nas brumas da manhã fria
Erguendo na sombra
aguerrida
Os mastros da nau que se
abria.
Numa tarde em voz dourada
A rebate em tristes
floras
Vi minha pátria finada
No tardo sino das horas.
Vi minha pátria florir
Nas mãos da Rainha Santa
Tendo por seu o porvir
Cego que o mastro
alevanta.
Tristes trovas que lhe
dou
Chora, por um velo escuro,
O olho que o mar lhe
levou.
Levou por o ter chorado
Na canção ao desatino.
Vi meu país afogado.
Pelo troco de ouro fino.
Mais eu vi no veio claro
D’água sua que bebeu
Duas ‘spadas sem amparo
Junto ao braço que as
perdeu.
E mais vira se não fora
(Escudo meu que não
terei!)
A armadura sonhadora
Em que meus olhos fechei.
Na trova no céu velada
Ondas que já não se
enlaça
A minha pátria ancorada
Já não parte, já não
passa.
Já não ‘screve em versos
seus
As sereias na água
escassa
Nem as vozes que em adeus
Bem contra preceitos seus
Viram partir em desgraça.
Mas dos vales vis e
fundos
Que, nas trevas, a
compasso,
Luzem no oceano baço
Velhas eras, novos
mundos,
Surge a flor plantada à
proa
Daqueles que ainda a
esperam…
E nas sombras que revelam
A alta voz que doce ecoa
Em que o sonho sobrevoa
O mar na palma da mão
Vai vagando em si cativa
Relembrando em voz
missiva
Aos que esperam sem razão:
Não se perderá quem viva
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