Foi ontem que a vi da
janela
Só, no meio do jardim
Rodeada p’lo belo jasmim
E ornada p’la rosa bela
Mas qual uma triste
ilusão
De rocha cinzenta era ela
Com flores de pedra na
mão
- Tu não.
No meio do jardim florido
Olho-lhe a fronte parada
E penso-lhe a fortuna
errada
De ver tal encanto
perdido
Em dama de pedra tornada;
E tem olhos fixos em vão
No céu do qual não verá
nada
- Tu não.
Nem um sorriso me devolve
Quando eu a olho de
frente
A falta de alma
permanente
No seu olhar duro se
envolve
Tem semblante descontente
Não conhece dor e emoção
E a pele cinza nada sente
- Tu não.
Aceno-lhe e rio, mas nada
Ao menos a ti posso rir:
Podes devolver um sorrir
Entre a tua boca rosada
E se tem boca é em vão
Pois tem-na p’ra sempre
fechada
P’ra que é mulher, pois
então?
- Tu não.
Ai, pobre estátua
cinzenta
Não se sabe pedra ou
mulher
E tu, carne e osso, é
mister
Que sejas quem amor ostenta
Mas eis-me aqui sempre em
tormenta
Sem que tu me olhes
sequer
P’lo que, ouve, aprende a
lição
Que a mulher de pedra
apresenta:
Apesar de pedra cinzenta
No peito tem um coração
- Tu não.
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